REAÇÕES REVERSÍVEIS
Quando
uma reação química processa-se formando os produtos e estes reconstituem os
reagentes, a reação é denominada reversível.
As
reações reversíveis são representadas por equações em que o membro dos
reagentes é separado do membro dos produtos por meio de duas setas com sentidos
opostos:
1
Reagentes ⇆ Produtos
2
O sentido 1 é denominado
direto ou reação direta (reagentes transformam-se em produtos), e o sentido 2 é
denominado inverso ou reação inversa (à medida que os produtos são formados,
eles regeneram os reagentes iniciais).
Reação
reversível é aquela que se processa em dois sentidos.
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Praticamente
toda reação é reversível em sistemas fechados, variando apenas o grau de
reversibilidade, que pode ser maior ou menor.
Entretanto,
algumas reações têm um rendimento muito elevado, de praticamente 100%, como é o
caso das reações de combustão. Outras reações têm rendimento tão baixo que, na
prática, pode-se dizer que a reação não ocorre. No caso das reações de
rendimento de praticamente 100%, podemos falar em reações irreversíveis, mas o
conceito de equilíbrio químico restringe-se apenas àquelas reações que
denominamos reversíveis.
EQUILÍBRIO QUÍMICO
Como
nas reações reversíveis as reações direta e inversa processam-se contínua e
ininterruptamente, o estado de equilíbrio químico é atingido quando as
velocidades dessas reações são igualadas.
Vdireta
= Vinversa
Após
o estabelecimento do equilíbrio químico, as reações continuam a ocorrer; logo,
o equilíbrio é dinâmico (as velocidades não se anulam).
A
variação das velocidades direta e inversa é mostrada no gráfico:
As
velocidades direta vd e inversa vi se igualam quando o
equilíbrio químico é alcançado. No início da reação, há apenas reagentes; logo,
a velocidade direta é máxima. Com o passar do tempo, os produtos vão sendo
formados e começa a existir a velocidade inversa. À medida que as concentrações
dos produtos vão aumentando, a velocidade inversa também aumenta (lembre-se de
que a velocidade de uma reação é proporcional à concentração das espécies
envolvidas na reação).
No
trecho AB, a velocidade direta diminui devido à diminuição das concentrações
dos reagentes, e a velocidade inversa aumenta devido ao aumento das
concentrações dos produtos. Exatamente no ponto B, as velocidades igualam-se,
e, a partir dele, as velocidades instantâneas direta e inversa não valem zero,
mas apresentam o mesmo valor, ou seja, a taxa de formação de todos os
participantes é exatamente igual à taxa de desaparecimento das mesmas
substâncias. Dessa forma, não se observa alteração na concentração dos
reagentes e dos produtos quando o estado de equilíbrio é alcançado. É interessante
notar a natureza dinâmica do equilíbrio químico.
TIPOS DE
EQUILÍBRIO
Quanto ao número
de fases
● Homogêneos –
reagentes e produtos constituem uma única fase de agregação.
Exemplo: N2(g)
+ 3H2(g) ⇆ 2NH3(g)
● Heterogêneos –
reagentes e produtos possuem fases de agregação diferentes.
Exemplo: Zn(s)
+ 2HCl(aq) ⇆ ZnCl2(aq) +
H2(g)
Quanto à natureza dos participantes
● Moleculares – reagentes e produtos são moléculas.
Exemplo: 2NO2(g) 2NO(g)
+ O2(g)
● Iônicos – pelo menos um dos participantes é uma
espécie iônica.
Exemplo: H2O(l) H(aq)+ + OH– (aq)
● Após o estabelecimento do equilíbrio, as
propriedades macroscópicas do sistema (cor, concentração, massa, densidade,
etc.) permanecem constantes.
Exemplo: CO(g) + NO2(g) CO2(g) + NO(g)
Verifica-se,
inicialmente, no sistema anterior, uma cor castanho-avermelhada (devido ao NO2).
Com o passar do tempo, há uma gradativa diminuição da cor castanha devido ao
consumo de NO2, até que o equilíbrio seja estabelecido. Após o ponto
de equilíbrio, a cor do sistema permanecerá constante.
A mesma observação pode
ser verificada quando se misturam CO2 e NO (reação inversa), em que
há um gradativo aumento da cor castanha devido à formação do NO2,
até que o equilíbrio seja estabelecido.
● As propriedades
microscópicas do sistema (transformação de uma substância em outra, colisões
entre as moléculas, formação de complexo ativado, etc.) continuam existindo
durante o estado de equilíbrio, pois o mesmo é dinâmico.
● O equilíbrio químico só
ocorre em sistemas reversíveis e fechados, nos quais não há troca de massa com
o meio ambiente.
DESLOCAMENTO DE
EQUILÍBRIO
Quando atingido o
estado de equilíbrio, o sistema tende a permanecer em equilíbrio
indefinidamente, a menos que algum fator externo venha perturbá-lo.
Le Châtelier
observou o comportamento dos sistemas em equilíbrio frente a perturbações de
concentrações, temperaturas e pressões, o que constituiu o princípio da fuga
perante a força, o Princípio de Le Châtelier.
Quando
um sistema em equilíbrio é perturbado por algum fator externo, ele sai desse
estado, reorganiza-se e “desloca-se” no sentido oposto, na tendência de anular
tal fator e de estabelecer um novo estado de equilíbrio.
As verificações
experimentais de Le Châtelier foram:
1. O aumento da
temperatura desloca o equilíbrio no sentido da reação endotérmica.
2. O aumento da
concentração de reagentes ou de produtos desloca o equilíbrio no sentido oposto
à adição de reagentes ou de produtos.
3. Para sistemas
gasosos, o aumento da pressão desloca o equilíbrio no sentido do membro de
menor volume gasoso.
Essas verificações
podem ser explicadas da seguinte forma:
• O aumento da
temperatura aumenta a energia cinética média das partículas dos reagentes e dos
produtos, aumentando tanto a velocidade da reação direta quanto a velocidade da
reação inversa. As reações endotérmicas aumentam mais as suas velocidades em
relação às exotérmicas, pois as primeiras absorvem energia, e, quando
aumenta-se a temperatura, tal absorção é favorecida.
• As velocidades das
reações são proporcionais às concentrações dos participantes. Assim, se as
concentrações forem aumentadas, a velocidade da reação aumenta e, se as
concentrações forem diminuídas, a velocidade da reação diminui.
Um exemplo é a
reação reversível e elementar:
H2(g) +
I2(g) ⇆ 2HI(g)
As velocidades das
reações direta e inversa são dadas pela lei da ação das massas.
vd = kd
. [H2] . [I2] e vi = ki . [HI]2
Aumentando-se a
concentração de pelo menos um dos reagentes, a velocidade direta aumenta, ou seja,
a reação é deslocada no sentido dos produtos (sentido oposto à adição).
H2(g) + I2(g) ⇆ 2HI(g)
Ocorrerá o fenômeno inverso
quando parte dos reagentes for retirada.
Quando
se aumenta a pressão de um sistema gasoso, as concentrações de seus componentes
são aumentadas e, como foi mostrado no item anterior, o aumento da concentração
aumenta a velocidade da reação. Tomando como exemplo a equação:
N2(g) + 3H2(g) ⇆ 2NH3(g)Os coeficientes estequiométricos da equação balanceada são proporcionais às quantidades, em volume, dos reagentes e dos produtos gasosos. Assim, após o aumento da pressão:
1º membro: 1 + 3 ⇆ 2 2º membros
Um
aumento de pressão irá concentrar mais os reagentes do que os produtos; por
isso, vd > vi . O equilíbrio H2(g)+
Cl2(g) ⇆ 2HCl(g) não
será alterado pelo aumento de pressão, pois não há diferença de volumes entre
os membros.
CONSTANTE DE EQUILÍBRIO EM TERMOS DA
CONCENTRAÇÃO EM MOL.L–1 (Kc)
Considerando que (1) e (2) são reações elementares, e
chamando de v1 a velocidade da reação direta e de v2 a
velocidade da reação inversa, pode-se escrever a lei de velocidade para as duas
reações.
v1 = k1 . [NO2]2
e v2 = k2 . [N2O4]
Equilíbrio iônico
SOLUÇÃO-TAMPÃO
Solução-tampão
é aquela que apresenta pH praticamente constante, mesmo com a adição de pequena
quantidade de um ácido ou de uma base forte. Os sistemas-tampões são de grande
importância biológica. Por exemplo, o sangue mantido a um pH ao redor de 7,4 é
uma mistura tamponada, e uma variação de aproximadamente 0,4 ou mais unidades
de pH, geralmente, resulta em morte. Analgésicos, antiácidos, refrigerantes e
aquários são sistemas que também se utilizam do mecanismo do tampão, para
manter o pH do meio praticamente constante. O funcionamento de um
sistema-tampão pode ser entendido baseando-se no Princípio de Le Châtelier em
equilíbrios ácido-base. As soluções-tampão, em geral, são soluções formadas por
um ácido fraco e o seu sal correspondente, ou por uma base fraca e o seu sal
correspondente.
Exemplos: Ácido acético e
acetato de sódio, ácido carbônico e bicarbonato de sódio, hidróxido de amônio e
cloreto de amônio, ácido benzoico e benzoato de sódio, etc.
Suponha
um sistema tamponado constituído de ácido acético (HAc) e acetato de sódio
(NaAc), representado pelos seguintes equilíbrios:
Se
ao sistema for adicionada uma pequena quantidade de um ácido qualquer, o
equilíbrio 1 reage se deslocando para a esquerda, no sentido de consumir parte
do ácido adicionado, mantendo a concentração de H+ praticamente constante.
Consequentemente, o pH sofre uma mínima variação. O sal da mistura tamponada
possui o íon comum que garante, até certo ponto, o consumo dos íons H+
adicionados.
Se,
por outro lado, for adicionada pequena quantidade de uma base, esta será
consumida em uma reação de neutralização, reagindo com os íons H+ do equilíbrio
1. O equilíbrio 1 então reage, deslocando-se para a direita, repondo parte da
concentração de H+ consumida, e o pH sofre apenas uma pequena variação.
Para
os tampões básicos, a linha de raciocínio é a mesma, ou seja, o mecanismo
também é explicado pelo deslocamento de equilíbrio e pela aplicação do Princípio
de Le Châtelier.
Fórmula
de Henderson-Hasselbach para o cálculo do pH de um tampão
Em
que [sal] é a concentração em mol.L–1 do sal, [ácido] a concentração
em mol.L–1 do ácido e [base] a concentração em mol.L–1 da
base. Geralmente, no preparo dessas soluções, iguala-se a concentração do ácido
com a do sal, ou a concentração da base com a do sal correspondente. Dessa
forma, a equação pode ser simplificada:
Tampão ácido:
pH ≅
pKa
Tampão básico: pOH
≅ pKb
HIDRÓLISE
SALINA
Pode-se
provocar um desvio no equilíbrio da ionização da água pela adição dos íons
hidrogênio ou dos íons hidróxido na forma de um ácido ou de uma base, respectivamente,
ou pela adição de uma substância capaz de reagir com a água para alterar as
concentrações relativas dos íons H+ e OH– na solução resultante.
Uma
substância dessa natureza pode ser um íon produzido pela dissociação de um sal.
A reação entre a água e os íons de um sal denomina-se hidrólise salina.
Hidrólise é uma reação
química entre uma espécie química qualquer e a água.
O
termo hidrólise é uma lembrança das antigas definições de ácidos e de bases.
Durante anos, a palavra hidrólise tem sido utilizada para significar o
contrário de neutralização. Com o crescente uso da definição de ácido-base de
Brönsted-Lowry, essa palavra foi perdendo o significado e hoje é associada às
reações entre íons doadores ou receptores de prótons com a água.
Sais
que produzem ânions aceptores de prótons (protofílicos)
Esses
ânions, de acordo com as interpretações de BrönstedLowry, definem-se como
bases. Como consequência da aceitação de prótons por parte dos ânions, há uma
diminuição na concentração de íons H+ da solução, que a torna básica. Esse tipo
de hidrólise ocorre, geralmente, entre sais derivados de um ácido fraco e de
uma base forte. Isso ocorre porque o ânion derivado de um ácido fraco é uma
base conjugada forte e, por isso, reage com a água.
Exemplos: NaAc,
KCN, Na2S, NaNO2, Na2CO3, etc.
Generalizando, observe um sal BA, derivado de um ácido fraco (HA) e uma base
forte (BOH):
Sais
que produzem cátions doadores de prótons (protogênicos)
Esses
cátions são considerados ácidos, de acordo com a teoria de Brönsted-Lowry,
pois, na hidrólise, liberam prótons, tornando a solução mais ácida. Esse tipo
de hidrólise ocorre, geralmente, entre sais derivados de uma base fraca e um
ácido forte (originando um ácido conjugado forte), também podendo acontecer com
cátions hidratados, como os íons alumínio e ferro.
Exemplos: NH4Cl,
NH4NO3, etc. Generalizando, observe um sal BA, derivado
de um ácido forte (HA) e uma base fraca (BOH):
Sais que
produzem cátions que são ácidos e ânions que são bases (anfipróticos)
Como
o cátion é um doador de prótons e o ânion um aceptor de prótons, pois são íons
fortes derivados de eletrólitos fracos, uma solução de um sal desse tipo será
ácida ou básica, dependendo das forças relativas do cátion como ácido e do
ânion como base. Esse tipo de hidrólise ocorre, geralmente, entre sais
derivados de um ácido fraco e de uma base fraca.
Exemplos: NH4Ac,
NH4CN, etc. Generalizando, suponha um sal BA, derivado de um ácido
fraco (HA) e uma base fraca (BOH):
Sais
que produzem íons apróticos não sofrem hidrólise
Esses
íons, cátions e ânions, são conjugados fracos, pois são derivados de
eletrólitos fortes. Por conseguinte, não reagem com a água, não deslocam o
equilíbrio e não alteram as concentrações de H+ e OH– no
dissolvente H2O. Produzem um meio neutro.
Exemplos: NaCl,
KNO3, KClO4, etc.
A
dissolução de sólidos, como o cloreto de sódio ou a sacarose, em líquidos, como
a água, é uma experiência comum no nosso dia a dia. Entretanto, a dissolução
dessas substâncias apresenta um limite. Depois de adicionada certa quantidade
de sólido, por mais que se agite o sistema, não se observa mais dissolução.
Nesse caso, a quantidade considerada de água dissolveu o máximo possível de
sólido. É comum dizer, nesse caso, que a solução ficou saturada e o sólido que
ficou no fundo do recipiente é o corpo de chão, corpo de fundo ou precipitado.
O EQUILÍBRIO DE SOLUBILIDADE
Considere
um sólido que apresenta pequena solubilidade em água: o sulfeto de ferro (II),
FeS. Imagine que uma quantidade considerável de FeS seja colocada em água.
Inicialmente, ocorre o processo de dissolução, as moléculas de água colidem com
a superfície do retículo cristalino e arrancam alguns íons. Outros íons
retornam da solução para a rede cristalina, isto é, ocorre o processo de
cristalização ou precipitação. Depois de certo tempo, as velocidades de
dissolução e de precipitação se igualam dando origem a uma solução saturada em
equilíbrio com o corpo de chão. O diagrama a seguir mostra a evolução das taxas
de dissolução e de precipitação.
SOLUBILIDADE
(OU COEFICIENTE DE SOLUBILIDADE)
Solubilidade
é a quantidade de um determinado soluto que, a uma dada temperatura, satura
certa quantidade do solvente. Pode ser expressa em gramas do soluto por 100
gramas do solvente.
Influência
da temperatura na solubilidade de um sólido
Sólidos
de dissolução endotérmica (∆Hdiss. > 0)
Esse
é o caso da maioria dos sólidos, pois a energia necessária para desfazer a rede
cristalina (entalpia de rede) é quase sempre maior que aquela liberada na
formação de interações soluto-solvente (entalpia de solvatação).
Considere o
seguinte equilíbrio:
NaCl(s) ßàNa+ (aq) + Cl– (aq) ∆H > 0
O
aumento da temperatura faz o equilíbrio deslocar-se no sentido direto, ou seja,
aumenta a solubilidade.
Sólidos
de dissolução exotérmica (∆Hdiss. < 0)
Alguns
sólidos, como o Ce2(SO4)3, possuem dissolução
exotérmica. Assim, o equilíbrio de dissolução dessa substância pode ser
representado desta forma:
Ce2(SO4)3(s) ßà2Ce3+ (aq) + 3SO4 2– (aq)
∆H < 0
O
aumento de temperatura sobre esse equilíbrio desloca-o no sentido inverso, ou
seja, favorece a cristalização. Esse tipo de sólido é mais solúvel a
temperaturas mais baixas.
PRODUTO
DE SOLUBILIDADE (Kps)
O
equilíbrio de solubilidade do sulfeto de ferro (II) é um equilíbrio
heterogêneo. Como todo equilíbrio, ele obedece à lei da ação das massas, que,
nesse caso, deve ser aplicada à fase aquosa. Dessa forma, tem-se:
Assim, tem-se:
Kc .
[FeS] = [Fe2+] . [S2–]
Enquanto
existir corpo de chão, a concentração do sólido será constante. Assim, o
produto Kc . [FeS] é também constante, sendo denominado produto de
solubilidade, e é representado por Kps. Para o equilíbrio
anteriormente citado, tem-se:
Kps = [Fe2+]
. [S2–] = 5x10–18
O
valor de Kps é constante em uma dada temperatura, como no caso das
outras constantes de equilíbrio. A tabela a seguir mostra algumas expressões de
Kps juntamente com os respectivos valores das constantes de
equilíbrio na temperatura de 25ºC para algumas substâncias iônicas.
Para a equação genérica
XaYb(s)ßà aXb+ (aq) +
bY a– (aq)
Tem-se a seguinte
expressão de
Kps: Kps
= [Xb+]a . [Y a–]b
De
forma geral, valores muito pequenos de Kps revelam que a
solubilidade é muito baixa. Os valores de Kps só permanecem
constantes em soluções saturadas de eletrólitos de solubilidade baixa. Essas
soluções contêm poucos íons e possuem caráter de solução ideal, o que é
indispensável para a perfeita obediência à lei da ação das massas.
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